Olhando este blog, é repetitivo e contraditório. Talvez possa ser, inclusive, aborrecido quando volta redundantemente a falar do mesmo, da mesma maneira, e irritante nos momentos em que um post opõe-se descaradamente a outro. Palavras como “todavia”, “contudo”, “embora”, “evidentemente”, “claramente”, “exterior”, “interior” ou - aparentemente a favorita - “absoluto”, entre outras, e expressões como a dilemática “por um lado” e “por outro” salpicam como pilares incontornáveis quase todos os textos. Quanto aos temas, o autor parece obcecado por questões relacionadas com a morte, o tempo, a palavra e a imagem, sem esquecer que de vez em quando procura impressionar o leitor com textos de pendor literário e algumas metáforas sensualistas. As contradições, essas, revelam-se principalmente nas teses apresentadas no que toca às oposições filosóficas sensação/razão, imanência/transcendência e interior/exterior. Todavia, o mesmo – o autor, evidentemente – continuará a tentar rasgar do interior para o exterior o absoluto estilhaçado, intotal na sua totalidade, com a máxima originalidade possível, isto é (outra expressão farta), a que faça jus às particularidades do próprio, tão singulares como as de qualquer outro. Sempre na senda da sensação. Isto porque, ainda que, por um lado, ela nos engane na hora racional, é, por outro, nela que o único nasce mais próprio e onde é possível recolher na imanência das coisas a transcendência criada, dia a dia, como lugar de recolha em abertura. Como condição desta: a contradição, porque sim ou porque não.
domingo, fevereiro 26, 2006
quinta-feira, fevereiro 23, 2006
A fala que cala sobre nós
quinta-feira, fevereiro 16, 2006
Tempo inacessível
sábado, fevereiro 11, 2006
As vozes que vivem
Actualmente, encontramo-nos perante um problema de comunicação em liberdade. Uma encruzilhada colocada pelo terrorismo. A questão é: a liberdade de expressão deve existir sob que condições (reconhecendo o paradoxo deste condicionamento)? Respondendo: por um lado, temerariamente, defendo a sua limitação, pelas razões expostas aqui; por outro, sou a favor da sua não restrição. A primeira resposta, claro, elimina a segunda. Mas determina-se por razões diferentes, isto é, do lado das vítimas e num registo de sustentação da sobrevivência. Isto porque a comunicação é parte integrante da acção terrorista e não um seu apêndice estritamente informativo. A segunda resposta, embora já conspurcada pela primeira, apoia-se na necessidade de garantir a liberdade de expressão no campo duma sociedade civil democrática e pacífica. Esta liberdade deve viver em todos e atingir qualquer um, incluindo quem não a aceita por reserva fundamentalista. Porque é crítica, só pode ser protegida. Essa é a única garantia de que se assegura para a sociedade a maior expansão possível da dimensão discursivo-ontológica dos seus viventes – motor de um mundo do Homem sempre em aberto e em construção dialogante.
sexta-feira, fevereiro 03, 2006
Desconfiança
Se a confiança expande o mundo como futuro sustentador de um presente mais denso, a desconfiança suspende-o na retaguarda amesquinhando-o criticamente. Contudo, existe a experiência, e as concepções absolutas tanto de uma como de outra perdem-se no reduto iniciático da ingenuidade. Assim, vivemos sob duas espadas: a que nos segura temerariamente e a que nos faz avançar criativamente. Por outro lado, como alguém me disse, sentir demasiado as duas lâminas pode ser consequência duma projecção excessiva do futuro, duma hiper-planificação, a qual redunda numa fixação que obriga à maior confiança possível, logo, paradoxalmente, à maior desconfiança possível: a psicótica. Num sentido inverso, albergarmos nossa esperança na pequena grandeza do presente é embelezarmos o imediato e tocarmos a confiança mais original e derradeira, aquela que, no agora, percebe na existência toda uma estética, porque palpável, e toda uma ética, porque visível.