sexta-feira, dezembro 29, 2006
Entre a Religião e o Estado
quinta-feira, dezembro 21, 2006
Entre o zero e o algo
sexta-feira, dezembro 15, 2006
O fim da escola II
segunda-feira, dezembro 11, 2006
O fim da escola
Por várias razões, julgo que a escola, como a entendemos hoje, tem tendência a desaparecer. Primeiro, porque o saber passou da ortodoxia cultural à heterodoxia económica. O relativismo contemporâneo estilhaçou não só os princípios éticos universais como as erudições insubstituíveis. Hoje, o conhecimento reformula-se pragmático e funcional, de nascença destinado a um fim prático. Neste sentido, as disciplinas escolares passarão a resultar de necessidades estritamente económicas e não culturais, múltiplas realidades móveis dirigidas ao lucro. Segundo, porque deparamo-nos com a diluição do professor enquanto pessoa-exemplo e a sua metamorfose em mero mediador entre os alunos e os conteúdos curriculares. Esta realidade, pode, inclusive, torná-lo tão permutável quanto as disciplinas. Assim, não só a escola perderá robustez e enraizamento na tradição como a docência profissionalismo e mestria. Provavelmente, no futuro, a escola será um empresa de alto dinamismo geográfico e estrutural. E a cultura, uma coisa fora dela.
segunda-feira, dezembro 04, 2006
A personagem profissional
segunda-feira, novembro 27, 2006
Visão optimista do Inverno
sábado, novembro 18, 2006
A Revolução do Ridículo
sexta-feira, novembro 10, 2006
Dissociações
segunda-feira, novembro 06, 2006
Outono quente – pormenores (folha de papel em branco)
sábado, novembro 04, 2006
Outono quente – pormenores (o saco)
sexta-feira, novembro 03, 2006
Outono quente – pormenores (a tecla)
quinta-feira, novembro 02, 2006
Outono quente – pormenores (o cigarro)
O cigarro é um pormenor. O cigarro vence. Todos os dias, em cada momento, impõe espaço inorgânico ao interior do fumador e faz aparecer uma hipótese de ar no seu exterior. Embora pareça, não é um objecto, é um gesto, uma dança de braços que enleva todo o corpo numa respiração total. O cigarro também pensa e põe os dedos a pensar numa espécie de continuidade entre o cérebro e o antebraço. Mata tempo, é um assassino. Golpeia a inacção com uma acção inútil. Encontra uma ranhura e adormece por entre as paredes dos instantes. E espera. Uma espera absoluta, sem objecto, mas imensa de desejo, o mais abstracto, o mais divino, o último e invisível sentido que amiúde se deduz do sono do tempo.
quarta-feira, novembro 01, 2006
Outono quente – pormenores (a gota)
sábado, outubro 28, 2006
Outono quente
sábado, outubro 21, 2006
Condição humana
sábado, outubro 14, 2006
O futuro é agora
sábado, outubro 07, 2006
Quem quer ser Joe Berardo?
quarta-feira, setembro 27, 2006
Funeral sem rosto
terça-feira, setembro 19, 2006
Dois Homens – a mesma História
domingo, setembro 17, 2006
Perder a Razão
sexta-feira, setembro 15, 2006
Para nada
quinta-feira, setembro 14, 2006
Um dia mau
quarta-feira, setembro 06, 2006
Sabichão
sexta-feira, setembro 01, 2006
Homem movimento
terça-feira, agosto 29, 2006
Orientando
sexta-feira, agosto 25, 2006
Folclore metafísico
quarta-feira, agosto 23, 2006
Eternidades
sábado, agosto 12, 2006
Tontices
domingo, julho 30, 2006
O mapa
quarta-feira, julho 26, 2006
Profecias I
sexta-feira, julho 14, 2006
Gosto de ti (e isto não é um título) II
Ela diz-me para gritar aos outros para me dizerem o que quero ouvir. Mas como diz o ditado, faz o que digo, mas não faças o que faço…
Em contrapartida, assistindo a vitórias corajosas que ultrapassam a consciência castradora e as palavras laminantes de outros, venço o medo. Sim, porque não são os castradores que mandam…o medo, esse é o verdadeiro pirata sentimental. Venci o pirata.
Sem medo…digo-o, não para te compensar de algo, mas porque o quero dizer. Porque preciso de o fazer. Gosto de ti.
quarta-feira, julho 12, 2006
Gosto de ti (e isto não é um título)
Vestido para sair
sábado, julho 08, 2006
Questões não interrogativas
quinta-feira, julho 06, 2006
A curvatura do tempo
quarta-feira, julho 05, 2006
A velocidade do riso
sexta-feira, junho 30, 2006
Buracos
segunda-feira, junho 12, 2006
Sem números
quinta-feira, junho 08, 2006
A casa IV
RC: Dentro da gaveta está a palavra. Ela é a resposta. A palavra define. Seja em que dialecto for, ela define. Ela é o veículo identitário. Ela é que transmite. Ela tem uma verdade dentro de si. Logo ele só é e os outros só são porque ela existe e porque foi inventada por um de nós.
quinta-feira, junho 01, 2006
A casa III
P: E as paredes caiem sobre ele, leves, mas enlaçadas. Prova na boca o sabor frio, descritivo, dos códigos indecifráveis, que parecem dizer-se, ser uma verdade, decifráveis. Se antes não tinha, agora tem um edifício. Mas não corre. Vela atentamente o aparecer. Regista o incontornável para um dia o contornar. E encontrar-se-á depois das casas?
RC: As letras, as cores, edifícios, perseguem os seus sonhos, como um pesadelo em que é perseguido por tais figuras, distorces, assemelhando-se a sombras, mas definidas. Flutuam, dançam, encantam, mas revelam?
quarta-feira, maio 31, 2006
A Casa II
P: Sem nudez, entrou numa casa de cores. Em cada parede estava escrito um enigma. Cada um parecido com letras, aparentando frases, insinuando dizeres. Fez um esforço de leitura e queimou os olhos na dureza do edifício, apertou nas mãos uma gaveta no sopé de cada muro. E chorou por si. Não sabe.
RC: A tristeza do não saber rapidamente se transforma em determinação. Quer saber o que aquilo quer dizer. Não pela possível informação, mas sim pela sede que tem no corpo, pela necessidade de desenigmar. Provar. Provar.
quarta-feira, maio 24, 2006
A Casa I
P: Cobriu o corpo de roupa e saiu. Já não o tinha. Depois de fazer do corpo o seu corpo – já não o mesmo, mas outro que possuía –, revestiu-o de um nome que os outros lhe deram e deixou-o delinear-se pelas ruas onde o chamavam. Enquanto ele, o próprio, sem nome ou identidade, ficou-se pela caixa fechada da surdez.
RC: Não. Não é amnésia. Não. Não trocou de identidade. Não. Não se apoderou de um corpo. Apenas descobriu que o que é só o é porque os outros existem. Existem antes dele e depois dele. Nada é sua posse. Nem o corpo, nem o nome. Nem a Deus pertence. Só à terra depois de morrer.
sexta-feira, maio 19, 2006
Ora
domingo, maio 14, 2006
Lágrimas de Crocodilo II
P: De uma espécie de ritmo emocional vamos talhando as escolhas tidas, que, conscientes ou não do dualismo inevitável, não deixam de procurar o pólo positivo como se fosse possível vivê-lo em permanência. E a tristeza, essa, dá-nos a possibilidade de sorrirmos, sem o sabermos e sem a querermos.
RC: Porque até o crocodilo chora.
Lágrimas de Crocodilo I
RC: A tristeza é como a dor. Elas fazem-nos sentir vivos. São elas que, infelizmente ou felizmente, escavam a abertura do caminho para a liberdade. Sendo assim, a liberdade que provém da tristeza, dói, mas é o corredor da “salvação”.
P: Mas será que encontramos mais vida na dor do que na alegria? Será preciso um sofrimento do tipo cristão para aceder ao significado da vida, ou seja, à sua vivência livre? Se assim for, a tristeza e a dor são necessárias como impulso? E então, a alegria, o que é?
quinta-feira, maio 11, 2006
Debruçar
sexta-feira, maio 05, 2006
As noites
segunda-feira, maio 01, 2006
Rouquidão II
RC: Logo, o silêncio serve de fertilizante, alimento da terra, para fazer crescer vida onde nela se enterra. O silêncio, o grito calado, permite o lugar a tudo o que o não tinha. Lugar para coisas, antes reprimidas, serem ditas. Tudo pode ser, tudo pode existir, tudo pode ser ‘dito’ desde que seja nesse grito calado.
P: Sim, é isso que digo. Mas não deixo de me questionar: se em cada subjectividade há uma determinação de carácter, portanto, um algo dito ou não dito e que, quando não dito, é a verdade escondida por trás das múltiplas interpretações possíveis, qual o valor do silêncio e do grito, não esconderão eles o autêntico em vez de o revelarem?
RC: Revelá-los seria uma nudez total. Quem quer desnudar-se perante todos? Para isso, prefiro o grito. Mesmo que ninguém ouça.
sábado, abril 29, 2006
Rouquidão I
RC: Grito surdo, obsceno até. Perfura até ao centro da terra. Mas ninguém ouve, ninguém sabe. Intraduzível. Só quem grita este grito de tal proporção, mas insonoro, sente, mas não expande. A expansão é transmissão. Gritar é um acto de liberdade. Logo grita. Até alguém ouvir e partilhar dessa emoção.
quarta-feira, abril 19, 2006
Corpo opaco
quinta-feira, abril 13, 2006
Coincidência e destino
terça-feira, abril 11, 2006
A possibilidade como saber
A hipocrisia pode definir-se como uma dissociação entre o fazer e o saber. Quando o que se faz não coincide com o que se sabe lamina-se a necessária consequência entre a teoria e a prática, sem a qual a primeira perde o seu sentido e se diminui ao nível do labirinto escolástico e da pretensão intelectual impotente. Contudo, por mais condenável que seja, encontramo-nos, hoje, talvez mais do que nunca, condenados a ela, consciente ou inconscientemente. Num mundo de sistemas envolventes constituídos por complexidades cujo conhecimento nos parece impossível, que agem sobre nós com intuitos meramente económicos, ocultando as estratégias que encetam por trás de um marketing altamente eficaz e praticando acções que, por via da necessidade de sobrevivência própria, colocam em causa a sobrevivência alheia, não só física como ética e cultural, ao consumirmos um produto ou um serviço oferecido por estes sistemas contribuímos facilmente para o incremento de fazeres do mundo com os quais o nosso saber discorda. Claro que fazê-lo sabendo ou não sabendo difere. Todavia, quem poderá dizer, com toda a certeza, que é impossível saber mais, e que, de facto, não se adivinha? É que parece que a possibilidade é já um saber suficiente.
sexta-feira, abril 07, 2006
A decisão
sexta-feira, março 31, 2006
Ora certos, ora incertos
quinta-feira, março 23, 2006
A dádiva e o desejo
quarta-feira, março 22, 2006
O Tabaco
quinta-feira, março 16, 2006
Queremos ser Deuses?
domingo, março 12, 2006
O olhar sobre o feito
Nada se esquece. Mesmo aquilo que parece perder-se do presente, fugindo da tábua que segura o acontecido, entra no tempo pelo corpo, aloja-se no interior da carne e nos lençóis da pele como vento que edifica silencioso os gestos que voluntariamente pensamos conscientes. Em consequência, quando agimos, estamos a montar a casa eterna onde inscritos ficam pedaços maciços, imunes à diferença e à sua remoção. Lá, junto ao chão da nossa história, nada se deixa mudar. Mas outra coisa muda, apesar do sempre, mesmo no olvido: o olhar sobre o feito. Aí, a formulação dá lugar à reformulação, a vingança ao perdão e o thanatos ao eros. Contudo, a cicatriz já é corpo e cada momento uma construção derradeira. E por isso nunca havemos de ser deuses.
quinta-feira, março 09, 2006
Não ver para querer
sexta-feira, março 03, 2006
Cada
domingo, fevereiro 26, 2006
O martelo
Olhando este blog, é repetitivo e contraditório. Talvez possa ser, inclusive, aborrecido quando volta redundantemente a falar do mesmo, da mesma maneira, e irritante nos momentos em que um post opõe-se descaradamente a outro. Palavras como “todavia”, “contudo”, “embora”, “evidentemente”, “claramente”, “exterior”, “interior” ou - aparentemente a favorita - “absoluto”, entre outras, e expressões como a dilemática “por um lado” e “por outro” salpicam como pilares incontornáveis quase todos os textos. Quanto aos temas, o autor parece obcecado por questões relacionadas com a morte, o tempo, a palavra e a imagem, sem esquecer que de vez em quando procura impressionar o leitor com textos de pendor literário e algumas metáforas sensualistas. As contradições, essas, revelam-se principalmente nas teses apresentadas no que toca às oposições filosóficas sensação/razão, imanência/transcendência e interior/exterior. Todavia, o mesmo – o autor, evidentemente – continuará a tentar rasgar do interior para o exterior o absoluto estilhaçado, intotal na sua totalidade, com a máxima originalidade possível, isto é (outra expressão farta), a que faça jus às particularidades do próprio, tão singulares como as de qualquer outro. Sempre na senda da sensação. Isto porque, ainda que, por um lado, ela nos engane na hora racional, é, por outro, nela que o único nasce mais próprio e onde é possível recolher na imanência das coisas a transcendência criada, dia a dia, como lugar de recolha em abertura. Como condição desta: a contradição, porque sim ou porque não.
quinta-feira, fevereiro 23, 2006
A fala que cala sobre nós
quinta-feira, fevereiro 16, 2006
Tempo inacessível
sábado, fevereiro 11, 2006
As vozes que vivem
Actualmente, encontramo-nos perante um problema de comunicação em liberdade. Uma encruzilhada colocada pelo terrorismo. A questão é: a liberdade de expressão deve existir sob que condições (reconhecendo o paradoxo deste condicionamento)? Respondendo: por um lado, temerariamente, defendo a sua limitação, pelas razões expostas aqui; por outro, sou a favor da sua não restrição. A primeira resposta, claro, elimina a segunda. Mas determina-se por razões diferentes, isto é, do lado das vítimas e num registo de sustentação da sobrevivência. Isto porque a comunicação é parte integrante da acção terrorista e não um seu apêndice estritamente informativo. A segunda resposta, embora já conspurcada pela primeira, apoia-se na necessidade de garantir a liberdade de expressão no campo duma sociedade civil democrática e pacífica. Esta liberdade deve viver em todos e atingir qualquer um, incluindo quem não a aceita por reserva fundamentalista. Porque é crítica, só pode ser protegida. Essa é a única garantia de que se assegura para a sociedade a maior expansão possível da dimensão discursivo-ontológica dos seus viventes – motor de um mundo do Homem sempre em aberto e em construção dialogante.
sexta-feira, fevereiro 03, 2006
Desconfiança
Se a confiança expande o mundo como futuro sustentador de um presente mais denso, a desconfiança suspende-o na retaguarda amesquinhando-o criticamente. Contudo, existe a experiência, e as concepções absolutas tanto de uma como de outra perdem-se no reduto iniciático da ingenuidade. Assim, vivemos sob duas espadas: a que nos segura temerariamente e a que nos faz avançar criativamente. Por outro lado, como alguém me disse, sentir demasiado as duas lâminas pode ser consequência duma projecção excessiva do futuro, duma hiper-planificação, a qual redunda numa fixação que obriga à maior confiança possível, logo, paradoxalmente, à maior desconfiança possível: a psicótica. Num sentido inverso, albergarmos nossa esperança na pequena grandeza do presente é embelezarmos o imediato e tocarmos a confiança mais original e derradeira, aquela que, no agora, percebe na existência toda uma estética, porque palpável, e toda uma ética, porque visível.