sábado, agosto 09, 2003

Pequeno Comentário a Amor, Poesia, Sabedoria de Edgar Morin

Obra que reflecte sobre uma dualidade fundamental no ser-humano: por um lado a razão, o método, a técnica, a prosa, o programável e fixo; por outro a loucura, o sentimento, o devaneio, a poesia, a abertura ao novo e à fluidez da vida. O Homem não é somente sapiens, é também demens; ou seja, é um ser de extremidades em diálogo, não podendo prescindir de nenhum dos pólos que o estruturam e movimentam (algo que Miguel de Unamuno explora de um modo impetuoso na sua obra Do Sentimento Trágico da Vida).
Morin atende à dimensão mágica, imaginativa e poética do ser-humano. Esta consola-o do seu quotidiano repetitivo e prosaico e, mais do que consolar, eleva-o para novos patamares criativos, verdadeiros produtores do novo. Qualquer dos lados necessita do outro. A partir do contraste aprecia-se e valoriza-se o sumo da vida - a infelicidade isola a felicidade como desejo. O amor como mito real, a poesia como campo desdobrante e criador e a sabedoria como reflexão holística consciente do seu próprio limite, são pois aspectos essenciais ao Homem - aquele que encontra na demência da Razão em diálogo com a razão da Demência o seu ser que está (fixação racional) sempre porvir (abertura poética).
Livro que, na hegemonia técnica de hoje, mostra que o que se sente é tão humanamente importante como o que se calcula, mas tendo a vantagem de ser a abertura do tempo e a possibilidade do novo.

Espero que o amor nos leve juntos em criação de mundos.