quarta-feira, abril 25, 2007

25 de Abril

Será que o fenómeno de extrema-direita, plasmado arruaceiramente nos skinheads, tem a relevância que os media lhe têm dado? Sim e não. Sim, porque existe. Não, porque não existe assim tanto. Contudo, a sua notícia chama-nos a atenção para uma realidade específica do nosso tempo: a aliança entre a política, a estética, a tecnologia e a violência. Curiosamente, o elo mais fraco parece ser o político. Particularizando nos skinheads, o impulso aparenta ser do foro emocional-colectivo, onde a ordem harmoniosa das massas destaca uma estética do fascinante, o poder superlativo da tecnologia uma possibilidade de domínio e a capacidade de destruição a hipótese da eliminação e do zero reconstrutivo. O modo pseudo-racional do político é uma mera plataforma discursiva, em si eivada de incoerências e puros erros científicos, como sejam as ideias de superioridade racial e de ética no autoritarismo. Portanto, mais um braço do irracional corporal contemporâneo, tanto mais perigoso quanto emocional, por natureza impossível de contra-argumentar.

terça-feira, abril 17, 2007

A doença

Do ponto de vista físico, a doença é uma disfunção. Esta consiste na incapacidade endógena ou exógena do corpo responder ao que o meio lhe exige para se manter estável na exploração sobrevivente. Por outro lado, em termos psicológicos, na doença física o indivíduo acede a outra dimensão, onde a disfunção acontecida é de outro teor. Aqui ele sente adoecer-lhe qualquer coisa para lá da sua vontade, noutro lugar da sua extensão, noutra esfera da sua pessoalidade. É uma máquina qualquer que nunca fala de si ou levanta o braço como existente que vem perturbar a voz e a face do ser autónomo e livre. Mas pouco, claro. As camadas culturais que se sobrepuseram ao corpo na constituição da personalidade histórica do humano inabilitaram-no para estas inaptidões. Quando emergem do afundar das faculdades pragmáticas, expulsam o elemento social para longe da vista do que há a fazer. A disfunção física é também social e a mente - teimosa - insiste na sua vocação para a liberdade.

sexta-feira, abril 06, 2007

Ciência pessoal

O indivíduo apercebeu-se do seu estado paranóico. E como? Deixou de se achar um Deus e procurou as incoerências e os desajustes das suas proposições labirínticas. Foi como se reproduzisse individualmente o que se passou historicamente com o nascimento da ciência. As leituras do real dogmáticas, nascidas duma auto-confiança ilimitada e dum racionalismo solipsístico, foram substituídas pela análise empírica e o cálculo matemático assentes no reconhecimento do erro e do provisório na verdade. Assim, debruçou-se sobre si mesmo, partindo do princípio saudável de que pode estar enganado (porque acertar algumas vezes não lhe permite acertar sempre), e evitou conclusões sobre o que não analisou e, principalmente, sobre o que é impossível analisar. A partir daí dormiu melhor e aceitou chamar sábia a ignorância.