Acordando um pensamento com um exemplo, repara-se que uma dada extensão de texto ocupa menos espaço na memória do computador do que uma imagem de extensão semelhante. A analogia insurge-se quando se despoleta um aforismo invertido sobre o poder criador do verbo: uma imagem ocupa o mesmo que mil palavras, mas mil palavras dizem mais do que uma imagem. Pois, considerando as potencialidades sinápticas do espírito, o discurso parece dinamizar mais esse evento do que a imagem, predominantemente imposta como estrutura – apesar de, no caso do cinema, se apresentar como movimento externo, não se dá a tantas ligações internas. Deve-se ter em conta, portanto, o que a palavra deixa à imaginação. Esta é por natureza estilhaço mental e mais dependente daquela para criar imagens internas do que de qualqer imagem externa. Claro que a comparação da mente com a informática é redutora para o humano, mas neste caso serve. Isto porque a polissemia e a economia do verbo são tão contundentemente potentes que, até na concretização tecnológica da humanidade, não a largam.
sábado, maio 26, 2007
terça-feira, maio 22, 2007
Truques civilizacionais
quarta-feira, maio 09, 2007
Os bons pais
Ter filhos é bom, por definição vital. Não há dúvida. Reproduz a espécie, uma parte do mesmo e a possibilidade de novidade absoluta (no sentido poiético). E é nesta que surge o busílis. Se o pai recente não produziu até à data do nascimento a originalidade em potência que a sua vida continha, muito mais difícil se torna vir um dia a fazê-lo. Um filho exige um empenho aglutinador e – mais importante – invade o progenitor orgulhoso com uma consolação que compensa a ambição poiética, restando parco espaço para a manifestação do próprio como singularidade que dá ao mundo qualquer coisa diferencial. Quando o filho nasce, o pai transfere para ele a responsabilidade de concretizar essa hipótese. E enquanto a cadeia não se quebra ou termina numa espécie de pico, vive-se no círculo sobrevivente de manutenção orgânica dum povo ensimesmado na sua natureza. Todavia, não se pode pôr de parte a possibilidade das duas rectas se cruzarem: a da procriação e a da criação. Nesse caso, o esforço é mais belo – conjectura que, portanto, não inclui pais indiferentes.