sexta-feira, setembro 17, 2004

Baloiço sobre o mar de Magalhães

A casa, o lugar onde podemos dormir, onde ele se deita. Estendido na cama, flui, estagnado corporalmente, mas dinâmico cosmológicamente, criado pelo Universo a partir de seus braços abertos, de seu corpo bailante no espaço sideral, o peito oferecido a deus, aquele que esquece. Todas as estrelas confluem no olho absolutizante, galáxias gravitam em torno do dedo que aponta um caminho, e tudo na mesma escapa, foge por entre o que foi dito, lá onde tudo está por dizer. Nada se totaliza. No entanto, o universo está lá, e com ele o absurdo, o silêncio ensurdecedor, o ruído absoluto. Esperemos que seja uma congeminação consciente, porque se o muro é parede infinitamente maciça, mais vale ser folha que Homem. No entanto, podemos pensá-lo, dizê-lo. Assim está todo o Universo dentro do Homem, e ele quase morre; mas o Universo salva-se, não se deixa morrer no ser humano, apenas lhe impõe o fio da navalha, o toque finito no infinito, a quase morte, a dor de ter consciência, o baloiço sobre o mar de Magalhães.