quinta-feira, novembro 06, 2008

A força dos dias

Temos poucas coisas nas mãos, apesar do fervilhar de notícias enquadráveis numa História Universal. O dia-a-dia mostra-se irredutível. Parece existir alguma coisa que o segura, um estruturalismo qualquer, uma rede abstracta. Somos mais fiéis ao quotidiano do que a uma ideologia utópica. A economia enerva, é um facto, faz-nos sentir no limite; mas, depois, tudo acaba bem, num Natal ou num Verão, e não ligamos. Aceitamos isto porque nos alimenta o monstro sonolento. Ao contrário, a verdadeira tragédia parece estar na intimidade ou na multidão, duas formas quentes de ser humano, onde este se pode sentir extremo e concreto, único ou total, com dramaturgias menos duras. O dia-a-dia, esse, é o relógio antigo que a minha avó tem na sala, nunca pára, está sempre lá e bate as horas pontualmente, indiferente às palavras épicas de Obama.

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