sexta-feira, julho 10, 2009

Os fins, os meios, o ideológico e o tecnológico

O ideológico tende a estar presente no tecnológico (sem defender a tese de Marcuse), mas não necessariamente de modo absoluto, entendendo-se o primeiro como uma concepção política presentificada e projectada ao futuro e o segundo como modos de fazer coisas, de atingir objectivos através de conhecimentos, ou como efectividade material disposta a algo.
Considerando que o ideológico pode ser o fim ou o princípio do agir tecnológico e este o meio daquele, pretende-se defender a tese de que o ideológico deve determinar o tecnológico como fim e não como princípio (ideia devedora de um certo pragmatismo). O problema do agir por princípio é que nem sempre produz o fim nele inscrito, isto é, quando o ideológico determina de raiz todas as acções que o pretendem provocar no futuro acontece que nem sempre esses meios obedientes ao fundamento resultam eficazes nos seus efeitos. Acresce que não se deve esquecer a dimensão temporal do ideológico: sendo um projecto, algo que se quer que aconteça, apesar de poder estar sempre a acontecer, é um objectivo, um fim, o qual, em si, não tem que ser pragmático.
Por exemplo, aceitando a liberdade como princípio, posso considerar que, para que ela se efective, tenho que utilizar em todos os instrumentos a máxima liberdade possível. Por isso, sou obrigado a aceitar o liberalismo económico mais radical por ele defender a maior liberdade possível nas transacções económicas. Contudo, como efeito disso, encontro uma sociedade mais desigual e com maior exploração do homem pelo homem, logo, onde uma grande percentagem de indivíduos não são suficientemente autónomos. Ou seja, não são livres.
É possível dar um exemplo oposto do ponto de vista da acção ideológica tradicional. Com o objectivo de atingir uma distribuição mais justa dos rendimentos de acordo com o trabalho e a consequente destruição das classes sociais, o comunismo aplica o fim da propriedade privada e uma economia planificada, pois se o princípio é o da igualdade no trabalho com um justo retorno, pretende-se que se deve racionalizar e condicionar ao máximo as decisões respeitantes ao produto laboral através do controlo das forças produtivas. Como consequência, uma classe dirigente burocratizante que absorve os únicos excessos possíveis numa economia cuja planificação total aparece como ineficaz para os objectivos propostos, quedando-se na pouca ou desigual produtividade e no nivelamento por baixo.
Claro que nestes casos existirão muitos aspectos discutíveis. Todavia, evitando tal discussão, destaca-se o seguinte: no primeiro, o princípio da liberdade cria técnicas livres para atingir esse princípio que resultam na sua negação; no segundo, o princípio da igualdade no trabalho produz técnicas igualitárias que levam ao seu contrário e ao paupérrimo. Consequentemente, sugere-se que as técnicas sejam determinadas a partir dos resultados e não de bases, metafísicas ou não, que actuem universalmente, incluindo nas técnicas.
O contra-argumento natural a esta postura poderá ser o de que «os fins não justificam os meios». E que, aceitando-se isto, é obrigatório defender que os meios são, em alguns casos, determinados pelos princípios, nomeadamente aqueles que, nesta frase-feita, aparecem como fins. De facto, concorda-se que os fins não justificam os meios que os colocam em causa. Pois, caso contrário, corre-se o risco de, logo no meio, não se atingir o fim que despoleta a acção, mas outra coisa qualquer, como o seu contrário. Contudo, acrescenta-se que se pretende que os fins devem agir como limites e alvos dos meios e não como seus constituintes. Neste sentido, o ideológico (fim) deve condicionar o tecnológico (meio) como negativo e não como positivo ontológico. Isto é, agir apenas como baliza da acção (negatividade) e como seu objectivo (positividade mínima). Essa a diferença. Portanto, deseja-se expurgar o tecnológico do ideológico e recolocá-lo no seu lugar de mero instrumento de modo a fazer da ideologia um acontecimento real e não-técnico.

2 comentários:

Alexandra Baptista disse...

E que tal um Post sobre «Subjectividade»?

Pedro disse...

Porquê esse tema?