Do ponto de vista físico, a doença é uma disfunção. Esta consiste na incapacidade endógena ou exógena do corpo responder ao que o meio lhe exige para se manter estável na exploração sobrevivente. Por outro lado, em termos psicológicos, na doença física o indivíduo acede a outra dimensão, onde a disfunção acontecida é de outro teor. Aqui ele sente adoecer-lhe qualquer coisa para lá da sua vontade, noutro lugar da sua extensão, noutra esfera da sua pessoalidade. É uma máquina qualquer que nunca fala de si ou levanta o braço como existente que vem perturbar a voz e a face do ser autónomo e livre. Mas pouco, claro. As camadas culturais que se sobrepuseram ao corpo na constituição da personalidade histórica do humano inabilitaram-no para estas inaptidões. Quando emergem do afundar das faculdades pragmáticas, expulsam o elemento social para longe da vista do que há a fazer. A disfunção física é também social e a mente - teimosa - insiste na sua vocação para a liberdade.
terça-feira, abril 17, 2007
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1 comentário:
O irromper do corpo, de um outro corpo, através da doença... Sobre isso lembro-me sempre de Montaigne, que fazia descrições pormenorizadas das suas doenças. Montaigne que inventou um sujeito que Descartes não quis aproveitar.
abraço
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