Ter filhos é bom, por definição vital. Não há dúvida. Reproduz a espécie, uma parte do mesmo e a possibilidade de novidade absoluta (no sentido poiético). E é nesta que surge o busílis. Se o pai recente não produziu até à data do nascimento a originalidade em potência que a sua vida continha, muito mais difícil se torna vir um dia a fazê-lo. Um filho exige um empenho aglutinador e – mais importante – invade o progenitor orgulhoso com uma consolação que compensa a ambição poiética, restando parco espaço para a manifestação do próprio como singularidade que dá ao mundo qualquer coisa diferencial. Quando o filho nasce, o pai transfere para ele a responsabilidade de concretizar essa hipótese. E enquanto a cadeia não se quebra ou termina numa espécie de pico, vive-se no círculo sobrevivente de manutenção orgânica dum povo ensimesmado na sua natureza. Todavia, não se pode pôr de parte a possibilidade das duas rectas se cruzarem: a da procriação e a da criação. Nesse caso, o esforço é mais belo – conjectura que, portanto, não inclui pais indiferentes.
quarta-feira, maio 09, 2007
Os bons pais
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