sexta-feira, junho 15, 2007

Geração R

De facto, aparentamos ser a geração dos dois r’s: rasca e dos recibos verdes. Filhos dos pais da revolução, esta estirpe – na qual me incluo, portanto – nasceu em democracia, viveu sem inimigos visíveis, sofreu uma educação laxista e emprega-se como pode em lugares abertos a uma flexibilidade muito pouco segura. Os pais não. Nasceram em ditadura, sentem-se vencedores sobre um inimigo visível, tiveram uma educação autoritária e ocupam para sempre os lugares inflexíveis a quem não tem experiência ou cunha adquirida. Nisto há uma grande incompreensão mútua. Mas os pais devem alguma compreensão aos filhos. Os seus desafios são maiores, porque mais psicóticos: o sistema perdeu mão e rosto, a cultura ganhou variedade e labirintismo e os que agora têm que oferecer ao mundo aquilo que são – os que entram na casa dos trinta – são obrigados a muito mais linhas indeterminadas – a mais arte, portanto – do que a rectas da ciência óbvia e segura dos pais, que um dia decidiram fazer um futuro para os filhos, mas ficaram com ele.

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