Do ponto de vista metafísico (se é que se pode usar tal exagero), esta data marca solenemente os pais que a tornaram memorável. Contudo, perde-se nos fisicalismos dos filhos que, sem que os pais tivessem noção disso, aprenderam a falta de consciência dessa História e o excessivo conhecimento dum estômago cada vez mais exigente.
Acontece que os progenitores viveram uma fome cuja morte sonhada seria a escada para um Outro Homem, e os filhos têm uma fome que não morre por mais que se alimente o corpo inseguro. Isto existe não só porque a sociedade é um carrossel de auto-consumo, mas também porque os descendentes estão mais incertos e não deixam de mendigar na abundância.
Para olvidar a necessidade, os pais ergueram um edifício estatal que os alimenta perpetuamente e investiram o que lhes restava nos filhos, nos seus cursos-garantias-de-pertença-à-classe-média-alta-se-possível. Contudo, o real deu-lhes a volta. O que davam com uma mão, já lhes tinham tirado com a outra. Os filhos estão cursados, mas preocupados demais para serem um Homem Novo ou, pelo menos, rico, pois perderam o barco do Estado que partiu para um mar de idosos. Os pais, por sua vez, estão alimentados, mas demasiado velhos para ensinarem um futuro e solitários para terem quem os ouça.
Nisto, a economia revela-se como fundamento: dos pais, que se satisfizeram com ela; e dos filhos, que não conhecem outra coisa. Portanto, temos isto: o ideal é uma entidade individual e a sociedade é uma coisa económica. E o irónico é que talvez não seja assim tão mau.
sexta-feira, abril 25, 2008
25 de Abril
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