quinta-feira, maio 12, 2005

O desencontro entre a vida e a morte

Há algo de estranho na vida, algo que se reveste de uma certa bizarria e que nos provoca sensações do grotesco, qualquer coisa do âmbito de uma estética sombria que emerge da inevitabilidade da morte e do modo absurdo como ela por vezes surge em forma de uma dor inútil e sem sentido. Porque, em princípio, a dor tem sentido: é o nosso corpo a recusar algo, a dizer-nos que algo não deve ser feito. Mas há dores que não servem para nada. A perspectiva pragmática da dor dilui-se perante a casualidade da tragédia. E essa cai como um cenário descontextualizado da peça que levemente vamos representando. Contudo, talvez o problema esteja no argumento que escrevemos para interpretar, talvez a civilização – essa peça inesgotável – esteja desencontrada do alimento imponderável que um dia nos falta, sendo essa falta uma alimento também.

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