quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Tempo inacessível

As palavras falam, enviam o nosso olhar para uma densa nuvem ou carne de referências tanto externas como internas. Quando nos assolam, na forma de chegada ou de partida, de recepção ou de acção, fazem a aparição do mundo, de nós, dos outros ou - sempre - do cruzamento de todos os elementos indistinguíveis que constituem a massa onde enterramos os dedos. Nelas o espaço da certeza, da comunicação, o comum onde nos abraçamos, estende-se possível. Mas também nelas a polissemia e a interpretação nos incertam, nos abrem múltiplo o mundo dos novelos que cada termo inventa. Presos nelas, nos libertamos no sentido do caminho e do chão, mas também nos obsidiamos frente à aranha das hipóteses que o mundo tem, infinito, desdobrado, ocultando em cada pedra de tempo um tempo inacessível.

5 comentários:

Alexandra Baptista disse...

por vezes como uma torre de Babel?
Pos vezes em consonância?

É isso?

Pedro disse...

Exactamente. Tanto como único caminho, talvez antes do corpo, ou não. E tanto como desmembramento multiplicado por si que resulta no labirinto, também do corpo, ou não…

Alexandra Baptista disse...

Mas diz-me lá porque agora fiquei um pouco baralhada.
O «mundo» é um «mundo» o que faz dele polissémico e labiríntico é isso?

O tempo esse conceito abstracto... julgo-o sempre inacessível e nunca o entendo!

Pedro disse...

A palavra pode tornar o mundo labiríntico, por um lado, ou revelar o quão labiríntico ele é, por outro. No primeiro caso, é a polissemia e o relativismo da interpretação que o multiplicam por imagens distorcidas de si mesmo. No segundo caso, a densidade da palavra faz jus à densidade do mundo, desvelando-o. Contudo, isto não deixa de ser problemático: há alguma coisa antes da palavra, o corpo, por exemplo, ou é a partir dela que se vê/faz o mundo, inclusive o corpo (posição de Derrida)? A segunda hipótese desfaz toda esta questão, pois, neste caso, se a palavra é labiríntica, é-o porque o mundo também o é, um mesmo com a palavra. O tempo, esse, tem que esperar um pouco…

Alexandra Baptista disse...

A palavra é labirintica porque é coisa do «mundo» e o «mundo» é labirintico porque é um conceito do «mundo». E nós, somos do «mundo» ou da «terra»?

Pelo tempo, eu espero!