Nasceu acreditando na ciência, quase num estado de certeza pré-crença que lhe fazia a carne, um antes inquestionável que lhe constituía o depois na forma de um para sempre: há um conhecimento que resolve tudo, em que algo dissolve perpetuamente qualquer coisa que se desajeite. E nisto cresceu. Um dia, morreu. Não ele, mas alguém, e a estranheza chegou em forma de incerteza – fio fino de equilibrista pousando por baixo dos pés de quem anda. Algo que se acentuou nas sequências posteriores irmãs desse facto. Daí que, quando antes olhava o corpo como matéria inesgotável e reformulável pelas mãos dos então adultos, passou, no mesmo olhar, a ver decrepitude em potência, resignação em esperança e a dúvida como filha de um prenhe diagnóstico. Agora, um médico não é uma eficiência funcional que apenas actualiza soluções num corpo de erros, é um malabarista que procura ler em sinais corporais e palavras biográficas causas movediças num corpo opaco e outro, mesmo para o próprio.
quarta-feira, abril 19, 2006
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