A hipocrisia pode definir-se como uma dissociação entre o fazer e o saber. Quando o que se faz não coincide com o que se sabe lamina-se a necessária consequência entre a teoria e a prática, sem a qual a primeira perde o seu sentido e se diminui ao nível do labirinto escolástico e da pretensão intelectual impotente. Contudo, por mais condenável que seja, encontramo-nos, hoje, talvez mais do que nunca, condenados a ela, consciente ou inconscientemente. Num mundo de sistemas envolventes constituídos por complexidades cujo conhecimento nos parece impossível, que agem sobre nós com intuitos meramente económicos, ocultando as estratégias que encetam por trás de um marketing altamente eficaz e praticando acções que, por via da necessidade de sobrevivência própria, colocam em causa a sobrevivência alheia, não só física como ética e cultural, ao consumirmos um produto ou um serviço oferecido por estes sistemas contribuímos facilmente para o incremento de fazeres do mundo com os quais o nosso saber discorda. Claro que fazê-lo sabendo ou não sabendo difere. Todavia, quem poderá dizer, com toda a certeza, que é impossível saber mais, e que, de facto, não se adivinha? É que parece que a possibilidade é já um saber suficiente.
terça-feira, abril 11, 2006
A possibilidade como saber
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