sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Os Senhores dos Bancos

São uns senhores, diz-se, bem vestidos. Fato escuro e gravata clara. Têm um ar atarefado, a ponta do nariz apontada à tarefa e o peito cheio duma intuição que lhes diz pertencerem a uma classe à parte, a dos lucros não produtivos. Passeiam-se em grupo, recolhem ares no alto e sabem reconhecer no andrajoso uma conta recheada de avareza. Eles, sim, sabem a verdade, o que cada um tem e vale, o seu potencial de vida (monetária). E mais: têm o poder de permitir que qualquer indivíduo se empenhe em vender parte do seu trabalho durante quarenta anos a troco de um imóvel que só será seu pouco antes de morrer, se não morrer antes. Restando saber ainda o que é isso de ser «meu». Temos o que merecemos. E eles, Eles, possuem o monopólio do dinheiro que se reproduz como coelhos sem coelhos ou desejo.

2 comentários:

Anónimo disse...

Eles quem?

Podes ser um deles se quiseres.
É uma forma de estar na vida como outra qualquer, e em concreto, possuem o bem com o valor mais tangível e democrático que há, o dinheiro.

Um escritor é bom escritor para uns e mau escritor para outros. Um escritor é bom escritor para meia dúzia e é ninguém para vários milhões.

Quem possui o valor do dinheiro é, inevitavelmente, alguém para vários milhões e ninguém para meia dúzia de pessoas.

Portanto, essa treta esteriotipada do "homem de negócios", ou "banqueiro", é, na melhor das hipóteses, uma crítica à sociedade (aos milhões) e nunca uma crítica aos banqueiros. Como aliás, tinha de ser.

Depois há mais, a grande maioria das pessoas trabalha para ganhar dinheiro. A grande maioria das pessoas não se preocupa com o real valor produzido, nem sabem o que isso é.

Mesmo sabendo o que isso é, a experiência do dia a dia, a democracia, mostra-nos que medir o valor real produzido é impossível. Mesmo que te esforces por medir, sentes-te tão injustiçado que estarias a ser estúpido por te forçares a tal violência.

A democracia diz-te mais, diz-te que em democracia o real valor do que é produzido é o valor democrático, e o valor democrático é socialmente traduzido em dinheiro.

Conclusão, a grande maioria deseja ser banqueiro, mas não conseguem porque não têm capacidade nem competência.

A grande maioria das pessoas não deseja ser escritor, nem artista-plástico, nem bailarina. Portanto, na perspectiva da competitividade, é mais difícil ser banqueiro do que ser, por exemplo, artista.

Logo, o que é mais difícil tem mais valor.

Pedro disse...

A crítica efectuada no post em causa não é ao dinheiro. Obviamente, é ao modo de reprodução de capitais realizado pelos bancos, assente em virtualidades e não em produção efectiva.
Um banco tem uma função importantíssima: disponibilizar fundos a quem os não tem a curto-prazo de modo a que seja possível usar capital futuro num projecto presente – uma valorização do indivíduo enquanto possibilidade. Isto não é posto em causa.
O que é criticado é o abuso que os bancos fazem dessa posição: juros altíssimos, taxas escondidas, mais-valias totalmente arbitrárias e não resultantes duma produção real. Não lhes neguemos o lucro consequência do seu trabalho, mas sim aquele que resulta dum abuso de poder.
Além disso – não tenhamos ilusões – sobre este sistema constroem-se estilos de vida faraónicos e uma axiologia exclusivamente monetária.
Ninguém é contra o dinheiro, bem pelo contrário, gosto dele e gostaria de ter mais. Apenas indigna-me o aproveitamento que se faz da seguinte lei: quanto maior a sua quantidade maior a capacidade de se reproduzir. Nisto, cria-se uma espécie de excesso do abstracto: o seu valor expande-se muito para lá das causas concretas, criando fenómenos como as chamadas bolhas nas bolsas mundiais.
Quanto ao valor democrático, não me parece que possa ser o dinheiro. A posse de dinheiro não corresponde propriamente ao mérito ou ao valor produtivo da pessoa. Por vezes, sim. Outras, não, como é o caso dos "Senhores dos Bancos". A sua arbitrariedade não permite uma universalidade. Antes permitisse.
Julgo que o valor democrático por excelência é o da palavra e da acção justa. Nisso há valor universal: todos podem e devem manifestar-se (mais ou menos jocosamente, mais ou menos ofensivamente) e agir de acordo com o seu espaço de liberdade, também conquistado. Pensar que o valor democrático é o dinheiro parece-me que é elevar o capitalismo a um estatuto absoluto.
Quanto à última questão. Ser banqueiro tem o seu mérito, como todas as profissões. Todavia, o seu grau de dificuldade não se pode comparar com o grau de dificuldade que existe em ser artista. Não por ser menor ou maior, mas apenas por ser diferente. Não são sequer comparáveis. Passam-se a um nível de competências que não estão no memo campeonato (passo a expressão).
Portanto, ser banqueiro é legítimo e bom (pelas razões já expostas), mas sem minar o espaço do cidadão prendendo-o sob a capa da liberdade. Pode-se dar um exemplo positivo: o do micro-crédito e de Muhammad Yunus, prémio Nobel da Paz.
Demasiado difícil para um banqueiro?