terça-feira, setembro 19, 2006

Dois Homens – a mesma História

Um, quer a verdade, dolorosa, onde estiver; outro, a ausência de dor, temperada, como puder. Se o primeiro não fecha os olhos a nada, o segundo cerra-os a tudo onde adivinhe qualquer espécie de amargura. Num, o valor da verdade, da ciência; noutro, o do prazer, do hedonismo. O cientista pessoal, não distanciado do objecto – portanto, aquele que vive –, fere os nervos com todos os pensamentos e factos que o rodeiam, até onde a pergunta alcança, mesmo os que o deprimem, principalmente esses – mas não com masoquismo, antes com obsessão pelo ser. O hedonista temerário rege os seus dias pela superfície das coisas; quando pressente uma profundidade dolorosa, foge na amnésia, na vanguarda dos gestos – não sem consciência ou intuição, um olhar por cima do ombro. Um, sabe o que vive; outro, vive o que sabe. Um, vê; outro, é visto. Qual deles o maior?

6 comentários:

Anónimo disse...

O maior é o que vive sem pensar...aquele que nao sabe o dia de amanha. Repetição:vive em vez de pensar...em x de perder tempo em nao viver.
Ass: a cobardia de nao assinar.

Pedro disse...

Na senda da oposição viver/pensar, interrogo-te: será que pensar não é também viver?

Anónimo disse...

Caro blogger, a cobardia do anonimato permite-me dizer os maiores disparates ou as maiores 'verdades'.
Em 1º lugar, nao acredito que haja uma oposiçao entre viver/pensar, acredito antes em 'cohabitação, acredito também em prioridades.
Passo a explicar: uns julgam mais importante viver do que pensar (esmifrar o cerebro pondo em causa coisas que devem ser 'cheiradas' e nao teorizadas); outros, os que metem o pensamento à frente do saborear, também sentem, mas perdem tanto tempo a explicá-lo, que às vezes o alimento passa fora do prazo.
Ass: o anominato é 1 privilégio.
P.S: Agradeço a questão posta, haverá satisfaçao com a resposta?

Pedro disse...

Caro anónimo, concordo com a sua posição. A vida pode não ter pensamento, mas o contrário não é possível. Por isso, viver parece prioritário, principalmente na medida em que é condição de sobrevivência. Contudo, gosto de pensar que “pensar” também é uma espécie de vivência, uma experiência também observável, curiosamente, por outro pensamento. E, sim, kantianamente, comecemos e acabemos nos sentidos, mas para que estes não sejam cegos, pensemos. Cumprimentos

Anónimo disse...

Um gorila. Um gorila quando experimenta, pela primeira vez, um gelado dado, gentilmente, pelo seu tratador, revela agrado através do seu comportamento. Mas ninguém lhe disse, nem ele pergunta do que é feito ou como é feito. Mas gosta.
No entanto, o facto de gostar não lhe confere a 'capacidade' de o produzir.
Com isto, caro blogger, acredito que nos entendemos perfeitamente.
A questão por vezes, e como afirma tao eloquentemente, lembrando a 'cegueira' kantiana, são os extremos...a intenção é: equilibrar.
Retribuo os cumprimentos, deixando-o nos seus pensamentos.
Ass: o anonimato nem sempre é sinónimo de estupidez.

Pedro disse...
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