Quando vamos a um funeral de uma pessoa desconhecida com o intuito de apoiar alguém que está vivo e que – esse sim – perdeu um ente querido, enterramos um indivíduo sem rosto e que pode tomar assim o lugar de todos os rostos, dos rostos vivos. Porque não perdemos ninguém verdadeiramente, não nos deparamos com a experiência directa da morte (a mais directa possível), e sim com a da continuação da vida e do alimento dos laços humanos que a tornam possível. Aquela ausência de figura facial, de identidade e carácter universaliza-se nos seres que queremos vivos, que desejamos tocantes e relacionais. Assim, a partir da negatividade do morto, emerge uma positividade que, apesar de não nos dar felicidade, obriga-nos a telefonar a quem gostamos como quem entra na vida.
quarta-feira, setembro 27, 2006
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