sexta-feira, março 31, 2006

Ora certos, ora incertos

Os dias são normais. Mas os dias também são anormais. No meio, ou nas extremidades, a surpresa. Enraizando as pernas como rochas laborais no cimento estruturado do dia a dia, na normalização do social, com a sua interacção humana e a sua materialidade citadina, chegamos a um ponto, onde, desse ponto, qualquer diferença nos parece impossível, todo o enigma inexistente e a verdade absoluta: feita dos dogmas tradicionais e de uma espécie de realismo ingénuo. Aí, toda a anormalidade é uma surpresa. Mas se colocarmos o nosso corpo, em grande parte do seu bloco, num ponto o mais exterior possível a essa regularidade previsível, olhando cada coisa com o espanto devido que adivinha, não adivinhando, todo um fundo por conhecer, aí a normalidade torna-se a verdadeira surpresa, onde a segurança do ser como é surge-nos espantosamente periclitante na crença dos outros, não na nossa, que sonhamos. Assim, a surpresa é sempre uma hipótese. É ela que, como ponte, nos leva de um lado ao outro, ora certos, ora incertos de sermos certos.

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