sexta-feira, maio 05, 2006

As noites

Rimos, decerto. Mas insinua-se uma recusa sorridente depois do riso: a negação do absurdo. Antes do plástico e de um esforço que não seria mais do que irónico, pode haver um avanço que nos fecha os olhos para um não-lugar sem visão, mas onde no escuro do impossível desenhamos informalmente o sentido, o roubo ao absurdo e a entrega sobre ele do vento do próprio. É um acto de fé, inevitavelmente. Mas o único possível, aquele que salva o consciente, porque neste o absurdo é o nada e então a consequência é o nada e o acto é o nada e o é maciço. Se não estou nesta imobilidade derretida sobre um vazio, é porque, talvez, no fundo, já agarre um futuro, ainda que invisível. Saltando, é uma ponte na manhã que se estende sobre a tarde que molda na noite o sono fantasista do inventor, o qual, de tanto talhar um lugar, um dia já está dentro dele, sorrindo acima do real que outro antes de si forjou.

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