quinta-feira, maio 11, 2006

Debruçar

Por um lado, somos responsáveis pelo nosso corpo, a posteriori; por outro, resultamos dele, a priori. E o estranho está nesta distinção entre nós e ele, como se ele fosse outro e nós o verdadeiro. Mas, dogmaticamente, algo nos separa, uma espécie de sensibilidade analítica remete-nos para um estado que o vê noutro lugar, onde é movido a partir do olhar como um objecto manipulável. A posteriori, esforçamo-nos por transformar a sua alteridade no próximo da mesmidade que nós cremos ser. A priori, se o vemos – e só se o vemos – a sua diferença é irremediável e o que nós somos tem que pousar sobre ele. E aqui, neste debruçar, talvez tenha começado o erro do Ocidente, mal ele nasceu. Talvez a distinção analítica e o espelho separem-nos de nós mesmos, diferenciando ao infinito o gesto que em vez de se ver a si mesmo talvez devesse ver o horizonte onde a questão não coloca o ego nem este rasga quando vê.

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