domingo, julho 30, 2006

O mapa

Em conversa com um amigo, ele dizia-me que em criança um dos seus sonhos era poder encontrar um mapa que o orientasse para um tesouro, passando de seguida pela almejada aventura que todo o tesouro requer para ser encontrado. Observei neste discurso uma boa analogia com uma das problemáticas contemporâneas: a do excesso de geografia. Hoje, ingenuamente, julgamos ter descoberto tudo, e o que não descobrimos, descoberto está, visto decerto estar sujeito à mira imparável da tecno-ciência. É uma questão de tempo, portanto. Os tesouros estão feitos e os mapas não se procuram, rodeiam-nos e entram-nos pelos olhos. Daí que seja normal, hoje, mais do que se desejar ter um tesouro para descobrir, se anseie por ter um mapa por encontrar. Assim, parece que o enigma deu lugar à topologia-da-ideia-de-enigma no papel de ser desejado.

2 comentários:

Boop disse...

Pode ser que sim
Mas por muitos esforços que se façam, não se conseguiu ainda cartografar a fantasia.

Pedro disse...

Mas, quer queiramos quer não, essa cartografia já começa a ser feita. O mundo virtual, que joga com identidades inventadas, com o forjar de aventuras e com simulações do foro sensitivo, entre outras performatividades fantasistas, começa a geografar, por imposição da escolha, uma série de dimensões às quais cada vez mais vamos tendo acesso como escape que nos retira à imaginação o esforço que por hoje vamos tendo e nos permite criar. No futuro, talvez não sejamos os criadores.