A tristeza dá-se mais ao literário do que a alegria. É mais fácil de poetar, pois aparenta maior profundidade, fixa-se numa atracção suplicante que não deixa de cativar uma natural propensão do humano para o sentir alheio. A linguagem também parece colaborar nesse registo, pois na insinuação da angústia qualquer coisa de inefável rodeia o discurso assim adensado pelo que diz não poder dizer. Contudo, na verdade, tal como Nietzsche afirma, a alegria é bem mais profunda que a tristeza. Mais indizível também e, claro, dificilmente poetável. Tem uma brancura que passa por superficialidade, uma força que simula euforia e uma consumação que parece satisfação. Mas não, tudo isso é vitalidade transcendente, dádiva sem desperdício, distância sem sono e possibilidade sem abnegação. E isso, quando se diz literariamente, precisa duma arte que mostre que algo se oculta quando aparece, em lugar duma que esconda com o rabo de fora o que se julga desejável.
sábado, julho 07, 2007
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário