segunda-feira, julho 04, 2005

Existe?

Uma das incapacidades do ser humano mais frustrantes é a de não lhe ser possível ver-se a si próprio de fora, sair de si, sem sair de todo, e ver-se a si mesmo sendo, em autêntica auto-exposição ontológica. Só assim, verdadeiramente, o positivismo sobreviveria. Mas não, este caiu sob o tropeção da inalienável subjectividade. Contudo, por vezes, pelo canto do olho, parece ser possível vislumbrarmos um pouco de nós, ainda que fugidio ou mesmo ilusório. Serve para nos reconhecermos em parte. Assim, a dada altura, ele deu por si a ser arrogante, diria até pretensioso, e pensou: e se sou sempre assim e disso não tenho consciência? Será que afinal não sou tão especial como pensava? Não, aparentemente não era; todavia, podia estar enganado. E, do mesmo modo que ninguém o avisava da sua arrogância, podia ser que ninguém descobrisse, como ele, a sua alta superioridade. Visto isto, o ser , quem sabe? Quem vê a confluência do real? Existe?

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