sexta-feira, novembro 04, 2005

Hipocrisia II

De acordo com a hipocrisia como método relacional da sociedade contemporânea, eis a moda. Isto é, poderíamos encarar o vestuário como uma forma de expressão imaginativa - uso de significantes feitos de tecidos com cortes e cores variáveis que, cobrindo o corpo, lhe emprestariam significados que, em princípio, emergiriam dum autêntico modo de ser; todavia, devido à chamada ditadura das colecções e estilos, vinda de um produtor industrial que alimenta assim a sua própria sobrevivência através duma variação imposta (impulso para consumo), e à consequente diferenciação social que a assimetria de preços e de qualidades sugere (e à qual se responde), o uso do vestuário não resulta de uma forma de expressão autêntica do sujeito (endógena), mas antes de uma colagem a lugares de diferenciação social já disponíveis para quem os possa ocupar (exógena). Assim, em torno do nosso rosto, o tabuleiro de xadrez convida ao descanso e ao conformismo, à hipocrisia fardada. A expressão, essa, fica-se pelos raros momentos em que a máscara deixa de sorrir. Um mundo, porque "o Mundo", a que ninguém escapa.

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