quinta-feira, dezembro 29, 2005

Auto-retrato

O auto-retrato parece sempre uma desfiguração do rosto. Tal como a voz ouvida pelo próprio no interior da sua cabeça difere daquela que é escutada pelos indivíduos que o rodeiam (todos conhecemos o espanto perante a nossa voz ouvida num gravador), aquele que se pretende auto-fotografar constrói uma imagem de si mais próxima do equivalente à voz interior do que idêntica àquela que os outros recebem. A auto-imagem surge distorcida quando comparada com a hetero-imagem. Por isso, a pergunta impõe-se: o que é mais autêntico, a voz ouvida interiormente ou a ouvida exteriormente, a imagem vista pelo próprio ou a imagem vista pelo outro, a ideia de si ou a ideia de si concebida nos outros? No exterior, uma teia de reconhecimentos cobre nosso rosto, fixa nosso ser no tempo da História, na memória colectiva. No interior, uma amálgama de reflexos do exterior e de sentimentos de si fazem uma mesmidade que segura a identidade subjectiva. No meio, a ânsia do encontro. Antes disso, que lugar, que verdade?

13 comentários:

Alexandra Baptista disse...
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Alexandra Baptista disse...

Será que o auto-retracto é uma desfiguração do rosto?
O que é o rosto?
Será o rosto a formalização da voz interior?
Será o rosto a formalização da voz exterior?
Será o rosto apenas uma imagem, um reflexo, e não um retracto enquanto forma de registo de sentidos?
O rosto não será uma desfiguração do eu?
Posso representar-me por palavras, números ou formas, dependerá do que tenho para dizer. Daquilo que quero ou não dizer.
Se a auto-imagem surgir distorcida significa que o processo criativo é aberto e passível de várias interpretações. Posso contudo, detectar que:
- A ideia não foi claramente enunciada;
- O código que a veicula não é dominado, igualmente, por ambas as partes;
- Quem lê interpreta, também, com a sua voz interior.

Não sei o que é autenticidade. As imagens e as palavras são o que quisermos e pudermos fazer com elas: nós e os outros.
O Auto-retrato é sobretudo um sentido, metafórico ou não mas sempre subjectivo. Que poderá ser lido de acordo com a «verdade» de cada um. Se essa verdade fosse universal levantavam-se outros problemas. Não sendo... conceptualmente, o mais importante foi «auto-considerado» num processo autista de concepção da auto-imagem.

Onde reside a verdade?
Em ultima instância: onde eu quiser!

Alexandra Baptista disse...
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Alexandra Baptista disse...

opssssssssss, com esta do link é que não contava!

Será esta uma forma de me remeteres para o meu «autismo»?

Pedro disse...

Não. O post não tem uma direcção pessoal. Antes se inspira na imagem que encontrei no teu blogue no intuito de pensar a questão da auto-imagem em comparação com a hetero-imagem. Um auto-retrato desfigurado é aquele que se confronta com o espaço público, pois difere irremediavelmente da imagem exterior. Neste sentido, a imagem que encontrei no teu blogue serviu perfeitamente como exemplo e mote de reflexão.
Cumprimentos e bom ano!

Alexandra Baptista disse...
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Alexandra Baptista disse...
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Alexandra Baptista disse...

Será que este auto-retrato também é desfigurado?
http://myblogmyself.blogspot.com/2006/01/myself-reflective-surfaces.html

É que, nos dois, o sentido é (para mim) tremendamente «figurado».

Um bom ano para ti também, mesmo!
:)))

Pedro disse...

Concordo que o sentido é figurado, enquanto emerge e se figura nos espaços próprios dos auto e hetero-retratos. A desfiguração acontece quando os dois sentidos se cruzam na impossibilidade de coincidência. É na diferença entre ambos que o retrato se transfigura, se torna irreconhecível, subsistindo, contudo, um duplo. Qual deles o verdadeiro?

Alexandra Baptista disse...

Qual deles o verdadeiro?
Qual deles o verdadeiro?

Isso nunca saberemos...

Alexandra Baptista disse...
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Alexandra Baptista disse...

...não digas nunca! *


*(falo de-mim-para mim)

Anónimo disse...

deviam fazer mais fasil