Ao contrário da opinião de autores como Miguel de Unamuno ou Kant e de muita da argumentação a favor da existência de Deus, parece-me que a imortalidade, além de não ser uma necessidade, caso existisse, seria um elemento totalmente desfigurador da existência e um estilhaço da acção e do sentido. Vejamos: cada movimento no espaço é realizado sob o efeito de um ponto em frente onde tudo torna e retorna, um fim como não-ser (sendo na forma de ausência), cujo modo de ser como interrupção configura a própria vida (como um rosto, também a vida forma a sua figura em contraste com a sua ausência, com o espaço da não-linha, da não-vida, da morte); sem esse fim, esse muro, todo o gesto se esfumaria numa infinita expansão que o transformaria num fluxo inapropiável, infixável, sem corpo ou orgânica – nada de mais contrário à vida; assim, a grande incógnita não é a morte, esta dá carácter à vida, é mesmo uma sua possibilidade; o grande enigma, sim, é o sofrimento, aquele que permanece para lá dos avisos eficazes ao corpo e se arrasta como insidiosa degradação quando a renovação e a aprendizagem já não são possíveis.
sexta-feira, dezembro 02, 2005
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