sábado, dezembro 10, 2005

O roubo da alma ou a impossibilidade do crime

Que fazer com a face, esse mesmo sempre outro no olhar alheio que nos vê e sabe. Uma expressão. Mas que movimento para fora, que significado nela é captado pelo código corporal da alteridade que nos olha? E a foto, esse terrível roubo?! Para onde nos leva, que não vamos, numa bidimensionalidade viajante, de mão em mão, irreal de facto, real por juízo: “és tu!”? Nela, nada nos pode esconder, mas também pouco nos pode revelar, e aí, naquela imagem que se expande no espaço social, parece existir uma estrutura sem mim e sem ti que, apesar de tudo, não chega para matar a questão. E esta, graças ao silêncio, não é estruturalista.

1 comentário:

Anónimo disse...

Se abordarmos a exterioridade da imagem (ou face), de como a vemos, o que é que vemos, é possível recorrer ao que o senso comum faz tão bem: ‘ quem vê caras não vê corações’. Torna-se um ‘risco’ interpretar uma expressão. Deste modo, a expressão é interpretada como quem a vê, e não por quem a sente.
Assim como a foto. Em certas tribos, era crença que a foto lhes retirava a alma. Se contextualizarmos a tribo, tendo em conta que nunca viram o seu reflexo, ou a sua imagem, é compreensível a ‘conclusão’ de que a máquina, lhes aprisiona a alma.
No espaço e tempo que nos inserimos, pode não ser um ‘roubo’, mas sim um ‘risco factual’. Na medida que todos os dias somos ‘vitimas’ do aprisionamento da nossa imagem. No entanto, pode ser interpretada de várias formas, como: violação, abuso, ou até mesmo partilha. Qualquer das formas, se assumirmos os próprios olhos, ou a nossa visão, o que são na realidade (captadores e assimiladores de imagem), também eles, nesta medida, podem ‘roubar a alma’, apenas não ‘fogem’ com ela (pelo menos risco físico).
Tudo se ruma à interpretação que se dá: tanto à captação da imagem como ao que se faz ou deve fazer com ela.
No fundo, a ‘magia’ encontra – se mesmo no facto de a imagem ser facilmente captada, mas o seu valor não é captado, logo, como pode a alma ser ‘roubada’? (“nela, nada nos pode esconder, mas também pouco nos pode revelar”).
No entanto, a imagem vale por mil palavras, tal qual a acção. Ou mesmo a expressão pode adquirir esse valor. Acredito que não se pode reduzi-la a um único significado, mas a várias interpretações. E por isso mesmo …também pode induzir em erro, porque ‘nem tudo o que luz é ouro’.
Em contrapartida, acrescento apenas a mesma resposta que dei noutro blog, que curiosamente, vai de encontro a esta ideia (blog da Alexª ‘Guardam-se as palavras…?’): ‘Guardam-se as palavras. Evitam-se os sons. Evitam-se os desenganos e mal entendidos. Mas, evita-se a hipótese de esclarecimento, discussão, expressão. Silêncio imposto.
Cuidado a usar as palavras, porque essas, essas podem 'roubar-nos' a alma.
No entanto, guardá-las para nós próprios, poderá provocar uma implosão de emoções e palavras mal colocadas. De facto, de tanto as guardar, o depósito acaba por explodir. ‘
Desta forma, o silêncio pode ser revelador ou proporcionar vários equívocos. Não achas?