quarta-feira, dezembro 21, 2005

Natal

Se ainda pode ser considerada uma festa religiosa adornada pelo ícone do presépio, é cada vez mais, por um lado, uma mera reunião familiar e, por outro, apenas um festim consumista encimado pela imagem do Pai Natal, que, apesar de se originar em São Nicolau, se apresenta como uma secularização de uma época que se enfatiza pela sua natural adaptação à sociedade de consumo. Este novo Pai é na sua prática um distribuidor de objectos. Estes são a fonte mítica da felicidade contemporânea: é com o objectivo de produzi-los e consumi-los que configuramos o nosso projecto social. Daí que o Natal ritualize a relação entre os afectos - principalmente familiares, mas também universais (herança cristã) - e o poder dos objectos como fonte de felicidade, liturgicamente oferecidos em embrulhos figuradores de surpresas. Depois de cada objecto desvelado, o prazer é efémero, mas a surpresa (enquanto não revelada) condensa e promete toda a utopia do prazer profetizado. Neste nos ligamos nos dias presentes com um olhar no futuro.

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