O cigarro é um pormenor. O cigarro vence. Todos os dias, em cada momento, impõe espaço inorgânico ao interior do fumador e faz aparecer uma hipótese de ar no seu exterior. Embora pareça, não é um objecto, é um gesto, uma dança de braços que enleva todo o corpo numa respiração total. O cigarro também pensa e põe os dedos a pensar numa espécie de continuidade entre o cérebro e o antebraço. Mata tempo, é um assassino. Golpeia a inacção com uma acção inútil. Encontra uma ranhura e adormece por entre as paredes dos instantes. E espera. Uma espera absoluta, sem objecto, mas imensa de desejo, o mais abstracto, o mais divino, o último e invisível sentido que amiúde se deduz do sono do tempo.
quinta-feira, novembro 02, 2006
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário