segunda-feira, fevereiro 14, 2005

Amizade pós-moderna

Olhar as pessoas de frente, quando se caminha na rua. Fixar os seus olhos obstinadamente até que as obriguemos a parar e a iniciar uma conversa, um diálogo inevitável, ou, ao contrário, continuemos até que o andar nos faça cruzar e percamos essas pessoas para sempre. Contudo, olhou-se, e nesse olhar concatenou-se maciçamente o peso insuportável (até ás lágrimas!) de uma questão, ou de uma possibilidade, ou talvez apenas de uma curiosidade: aqui estamos nós, desconhecemo-nos, mas somos humanos; nessa generalidade, a palavra humanos, podemos incluir-nos os dois e todos aqueles por quem nos cruzamos na rua. Tenho pernas, braços, tronco e olhos. Vês? Que bem os vês! Não desvies. Desviaste, não suportaste. Eu percebo, não me conheces… Mas podíamos ter falado, trocado ideias verdadeiramente importantes, construído uma intimidade moderna, pós-moderna até. Isso, sim, seria uma intimidade pós-moderna: sermos todos grandes amigos e recebermos todos os olhares como convites ao diálogo.

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