Ou nenhuma delas (a felicidade e a verdade) existe como coisa a encontrar. E aqui defendo uma ideia radical de construção. Tudo se cria na direcção da nossa satisfação, a qual depende, sem dúvida, de condições éticas. Uma espécie de construtivismo pragmático-hedonista condicionado eticamente pela dimensão social do ser humano. A partir daqui, tudo é possível, desde que haja acordo e acção universal e futuramente aceitável no sentido em que preserve e satisfaça a humanidade, todos e cada um. Portanto, parece que a felicidade e a verdade são a mesma coisa, mas uma coisa endógena, imanente, e que permite, a partir de si, reter poieticamente na imanência a nobreza que parecia apenas apanágio da transcendência. Assim, o telos não se descobre, cria-se. Tocaremos no céu, mas porque ele nos sai dos dedos e não porque ele nos cobre.
sábado, outubro 01, 2005
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3 comentários:
É certo que a verdade só pode ser uma construção, tal como a felicidade, mas ambas adquirem uma força social que por vezes pode dar uma ilusão de transcendência: tornam-se de tal formas importantes que dominam todas as outras verdades ou felicidades. Veja-se o caso da verdade científica ou da felicidade material (consumista).
Querer assentá-las (felicidade e verdade) numa criação ética universal parece-me ser uma esperança salutar mas de impossível concretização. E sem querer ainda somos tão kantianos...
Miguel: parece-me que, no fundo, não existe um “centro” onde elas estão. São puras construções; delimitadas, contudo, ética, política e socialmente. O “telos”, o fim último, por sua vez, está em permanente reformulação, resultando da construção consensual baseada nos contributos da Filosofia da Comunicação. Assim, o céu é feito por nós.
Nrc: julgo que devemos, sem dúvida, evitar que a verdadeira felicidade se torne num ídolo com aparência de transcendência autoritária. Evitar isso é também procurar a verdadeira felicidade, pois esse cuidado resulta de consensos que aprenderam com a experiência histórica. Visto isto, porque é que te parece mais impossível que possível a construção ética universal? (a qual é uma permanente metamorfose, não esquecer, na qual as minorias, paradoxalmente, impelem para novos acordos, novas configurações maioritárias).
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