segunda-feira, abril 18, 2005

Sobre o discurso provinciano

Invertamos. Ao discurso cosmopolita que denuncia, exaustiva e lantejoulamente, o provincianismo português (o de espírito, não o geográfico, entenda-se) chamemos pseudo-cosmopolita e denunciemos o seu interno saloismo. Se entendermos por provincianismo uma mentalidade excessivamente centrada em particularismos regionais, tanto podemos concordar com o diagnóstico feito por estes insistentes cosmo-senhores como devemos também considerar que, pela sua recorrência brilhante e pela permanência excessiva dos altos das suas alturas, não menos provincianos são os ditos indivíduos, assim demasiado individualizados no umbigo que insistem distinguir da ralé que os circunda. Os seus esforços de distinção são tanto mais hiperbolicamente portugueses quanto o português sabe ser universal e revelar decerto as mesmas dores, alegrias e aspirações que o comum dos outros mortais manifesta debaixo do tecto deste cosmos.

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