quinta-feira, março 17, 2005

Talhando a memória

Eis uma das necessidades humanas: estabelecer uma relação íntima com alguém. Necessidade porque ninguém consegue verdadeiramente alhear-se desse desejo. Mesmo aquele que aparentemente o consegue, por motivos religiosos, fá-lo em notório esforço, muitas vezes inglório, quantas vezes ridículo… (por isso, não consegue). E assim todos nós vivemos nesse jogo de possibilidades que nos podem levar a encontros muitas vezes mágicos, onde a epiderme transforma o impulso em toque e este metamorfoseia os cruzamentos em lugares de telúrica emergência de um eu novo, malabarista no edifício de um nós que já não passa mas pretende permanecer, ainda que nada permaneça. Um dia, institucionaliza-se esse esforço, casa-se e todos os papéis socializam e estagnam o acto criador. Se não se institucionalizar, por seu lado, corre-se o risco de, na não sustentabilidade institucional, cair-se na vulnerabilidade acentuada por todos os desafios individuais da vida contemporânea. Neste estar ou não estar, fixar ou não fixar, todo um mundo se passa ou fica perpetuamente. Pois, como sempre, é a memória que nos salva, não só porque lembra, mas também porque esquece…

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